A maçã

Me destes uma maçã que possuía um vermelho inigualável De tão bela cortei apenas em dois pedaços Seu gesto me pareceu um tanto amável Troquei ela por uma caixa de maços Admirei-a até estripar os olhos Não poderia morder e então engoli por inteiro Envenenada me reduzia a um dos mortos Nem pena eu recebi do sujo coveiro Não desce e apodrece na minha garganta O corpo estava a formigar e a pobre alma queimar A vida que esvaia na aurora não mais encanta Aquela que vivia aqui foi-se embora até dissipar As tuas mãos afáveis que acariciavam agora me sufocam Encontrei em um belo par de sapatos a fuga inesperável Procurei então a paz que todos almejavam Os pés que calejavam sucumbiam o inalcançável Balbuciei as últimas palavras O frio impedia que as pudesse pronunciar Mais do que eternas e amaldiçoadas Tristes e pequenas começaram a amargar

Indiferente

Fantasiava a ideia de que era diferente Eis que de tanto acreditar cegou seus instintos Da brava valente se tornara a descontente Sua ilusão não suportava seus órgãos famintos Seus olhos negros derramavam o mundo Com tanta chuva regou sua delicada flor Desejava se enterrar bem fundo Pois não viveria de desgosto e desamor Oh pobre gélida menina! Trocara sua nudez pela beleza da dor Sonha que esta não seja sua sina Ou que de todo seja apenas seu destruidor Vencida e atormentada pelo cansaço Se trancara na caixinha dos esquecimentos Escreveu seu rascunho da vida no almaço Demonizou os sorrisos e sentimentos Todas as esperanças levava em suas canecas Tomava o café e excluía de si falsas promessas Da cheia de fé se tornou uma das céticas De estampadas no rosto no buraco negro imersas

Ele

Todos os dias eu levanto sentindo o seu cheiro na minha pele. Não te vi ontem, não te vi essa semana, porém continuo sentindo seu cheiro em mim. Em cada pequeno espaço dos cômodos da minha casa, mas você nunca esteve aqui. Escuto sua voz toda vez que fecho os olhos e as vezes eu juro pra mim mesma que você está aqui. Chega a ser um pouco cômico quando me pego olhando suas fotos e começo a sorrir tão abertamente. E eu não desistiria, não desistiria nenhum dia sequer de ter a oportunidade de ser sua. Aliás, posso procurar numa lista imensa do que fazer... Só que ser sua continua sendo a melhor de todas as elas. Mesmo que eu seja boba, ou até mesmo você. Mesmo que a gente bata de frente milhares e milhares de vezes. A sensação mais gostosa é o alívio de estar do seu lado, estar te abraçando. Me pego inúmeras vezes recordando de cada minuto que passou até agora. Valeu a pena, vale a pena cada "porcentozinho" que dedico a você. Cada pedacinho do meu coração. Cada "tantinho" do meu amor. Te encontrar, te abraçar, te beijar, te ouvir... ou apenas te olhar. Meu deus! O que você fez comigo?! Que tola, tola, tola, tola... Poderia colocar você em um potinho e dormir todos os dias com ele. Ah meu amor... que coisa boa você me traz.

As vezes

As vezes tudo o que quero é que as coisas saiam exatamente como planejei na minha mente. As vezes, só para não dizer sempre. Parece que quando perco controle dos meus planos eu fico sem controle de tudo. E quando vejo que não consigo sair do redemoinho que entrei fica meio desesperador. Porque as vezes tudo o que quero é que eu e você sejamos um só. As vezes, só para não dizer sempre. E quando você está presente, parece que todo o controle se vai. Eu perco meu ar, eu perco o chão, eu começo a flutuar dentro do redemoinho. Não parece desesperador. As vezes tudo o que quero é acordar e vê-lo do meu lado. As vezes, só para não dizer sempre. Quando abro os olhos de manhã, procuro seu rosto, procuro sua mão, seu corpo, eu procuro você do lado e parece que quando não encontro eu perco o controle. E o redemoinho me enlouquece e sobrepõe o desesperador. As vezes eu só queria que não fosse tudo complicado. As vezes, só para não dizer sempre. Porque parece que quando meus planos não incluem você, a minha vida torna-se um redemoinho e o tudo se resume em dor.

Covarde

Eu admito diversas vezes na minha vida que eu tenho medo, tenho medo de tudo... eu sou uma covarde. Eu sou covarde, mas covarde assumida. Eu quero me jogar de cabeça, mas algo me freia... eu consigo me jogar e algo me lembra de frear. Acontece que em todos esses anos eu esperei demais, demais mesmo e isso me engoliu, me tomou por completo e agora não sei mais o que seria deixar de te amar. Porém amar assim, demais, nessa intensidade chega a ser assustador. E onde deixar o medo de ser como nas outras vezes? Tudo o que mais quero é poder daqui meses olhar pra trás e pensar que todo esse medo foi inútil. E dizer mais um pouquinho pra você sobre meu amor.

Nossa história

Eu poderia arranjar mil e umas palavras pra poder explicar. Acontece que de todas as histórias tristes, essa sim eu poderia resumir como meu fim e como meu abismo. 
Eu contaria como seria ser engolida pela dor. Mas acontece que em minha volta tudo parece ter se tornado inútil, tão inútil quanto eu. 
Essa seria a história de um sonho, daquele príncipe, daquele momento que encontrei a maior felicidade. 
Seria, se ela não fosse o meu maior pesadelo. 
Eu tentaria remoer, junto com vocês. Tentaria entender como uma pessoa consegue inventar tantas coisas, como pode contar tantas mentiras, como pode não ter um coração e destruir quem tem. 
É meio complicado definir o quão destruída eu estou. Eu não me permito nem ao menos juntar os pedaços. 
Tudo ficou tão surreal quanto o início. 
Quando as verdades estiveram diante de mim, achei que morreria. 
Nunca senti tanto desgosto, esse desgosto é tão intenso que vomitei, vomitei sem parar por pensar em tudo e realizar que foi tudo uma mentira.
 Essa seria a história do amor mais bonito e imenso que já senti, a história dele se tornar repulsa, ojeriza, desgosto e tristeza.
 Pensar em tudo, ou até mesmo passar perto na rua é ruim. É ruim, porque agora você é asqueroso, tão asqueroso que sinto refluxo. Sinto como se meu estômago fosse embora. 
Sim, não tenho estômago pra sua existência. Não tenho estômago pra tanta mentira. Não tenho estômago pra essa dor. 
No início eu queria muito me deitar, acordar e descobrir que não foi um sonho que tornou-se pesadelo, e sim um pesadelo que se tornou um sonho.
 Mas hoje não espero nada, não espero que tudo mude, não espero me fazer ser menos por outro alguém de novo.
 Eu declaro a morte, a sua morte na minha história e a sua morte em mim.
 Você se tornou apenas a gastrite do meu estômago, no meu incessante desejo de não olhar e de não estar perto. 
Você se tornou sinônimo de tudo o que há de pior no mundo. A minha necessidade de você agora é a necessidade de estar distante de você. 
E no final de toda essa história do eu e você, não desejo o seu mal.
 Mas que um dia, quando encontrar alguém, que ela seja igual a você.

Lição

Um dia resolvi assistir "the perks of being a wallflower" novamente e então ouvi novamente a frase "we accept the love we think we deserve" e entendi finalmente o sentido dela na minha vida. Por muitos anos eu vivi aceitando o amor que eu achava que merecia. Eu aceitava qualquer coisa por pensar que era isso que eu tinha o direito, porque não me amava. Não me achava digna de um amor de verdade, eu me odiava, eu me detestava. Eu aceitava dores, eu aceitava lágrimas, eu aceitava ser a ultima opção, eu aceitava ser o prêmio de consolação, eu aceitava ser uma pessoa em cativeiro, eu aceitava ser a outra, eu aceitava ser o estepe, eu aceitava ser o nada, eu aceitava ser menos que nada. Ou eu achava que gostar demais era o suficiente pra manter um relacionamento. Durante anos da minha vida eu busquei um amor, busquei um amor que o tempo inteiro eu queria preencher em mim, pois havia um vazio, havia um buraco negro esperando por ele. Erroneamente eu achava que estava em alguém, portanto o que era dado eu tentava encaixar nesse buraco. Nada cabia, nada ficava e ao invés de cobrir só criava feridas de tanto forçar deixar tal amor lá. De tanto bater na tecla eu entendi, que o que eu procurava devia vir de mim mesma. Não posso esperar dar um amor a alguém e receber, se não sou capaz de me amar também. Eu precisava gostar de mim, pensar em mim, viver pra mim. Nesses últimos meses eu tenho aprendido a me amar e após quebrar a ideia de amor que eu mantinha na minha cabeça, estou aprendendo a amar outra pessoa também. Estou aprendendo a me relacionar, estou aprendendo o que é me fazer e sentir alguém me fazer bem, estou tendendo o que é confiar em alguém de forma plena, estou aprendendo o que é precisar sem precisar de alguém, estou aprendendo a viver a dois, estou aprendendo a transbordar, estou sorrindo, estou amando, estou vivendo, estou aqui aprendendo e cada vez mais.